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Materialidades emergentes: rumo a uma história conectada de objetos nas fronteiras da América colonial

Emerging Materialities: Towards a Connected History of Objects on the Frontiers of Colonial America

A circulação de bens e matérias-primas no espaço colonial tem sido um tema clássico da história latino-americana colonial. Numerosas obras desde a década de 70 estudaram a formação da economia ultramarina e Atlântica desde a abertura e expansão dos mercados, a diversificação dos circuitos de produção e circulação e a crescente participação e especialização de agentes, desde funcionários, comerciantes, missionários e membros das comunidades indígenas locais. Minas, fazendas, oficinas, plantações, missões foram alguns dos espaços privilegiados de descrição e análise na literatura clássica da história econômica (Assadourian, 1983ASSADOURIAN, Carlos Sempat. El sistema de la economía colonial: El mercado interior, regiones y espacio económico. México, D. F.: Nueva Imagen, 1983.; Mörner, 1992MÖRNER, Magnus. Ensayos sobre historia latinoamericana: enfoques, conceptos y métodos. Biblioteca de ciencias sociales 37. Quito, Ecuador: Corporación Editora Nacional, 1992.; Tandeter, 1992TANDETER, Enrique. Coacción y mercado: La minería de la plata en el Potosí colonial, 1692-1826. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1992.; Bakewell, 1976BAKEWELL, Peter John. Mineria y sociedad en el México colonial: Zacatecas (1546-1700). México, D. F.: Fondo de Cultura Económica, 1976.; Bakewell, 1984BAKEWELL, Peter. Mineros de la Montaña Roja. Madrid: Alianza, 1984.; Garavaglia, 1987GARAVAGLIA, Juan Carlos. Economía, sociedad y regiones. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 1987.; 1983GARAVAGLIA, Juan Carlos. Mercado interno y economía colonial. México, D. F.: Grijalbo , 1983.; Harris; Larson; Tandeter, 1987HARRIS, Olivia; LARSON, Brooke; TANDETER, Enrique (Eds.). La participación indígena en los mercados surandinos, estrategias y reproducción social, siglos XVI a XX. La Paz: CERES, 1987.; Mintz, 1986MINTZ, Sidney W. Sweetness and Power: The Place of Sugar in Modern History. Westminster: Penguin Publishing Group, 1986.; Hausberger, 1997HAUSBERGER, Bernd. La Nueva España y sus metales preciosos: la industria minera colonial a través de los libros de cargo y data de la Real Hacienda, 1761-1767. Frankfurt am Main: Vervuert; Madrid: Iberoamericana, 1997.; Assadourian et al., 1973ASSADOURIAN, Carlos Sempat et al. Modos de producción en América Latina. Madrid: Siglo XXI, 1973.; Frank, 1982FRANK, Andre Gunder. La agricultura mexicana: transformación del modo de producción, 1521-1630. México, D. F.: Ediciones Era, 1982.; Nickel, 1996NICKEL, Herbert J. Morfología social de la hacienda mexicana. México, D. F.: Fondo de Cultura Económica , 1996.).

Se os enfoques mais clássicos enfatizaram os processos de desestruturação econômica imposta pela conquista e colonização, os trabalhos mais recentes sinalizam a crescente autonomia dos mercados internos americanos com destaque para a participação direta das populações indígenas envolvidas nestas atividades. Nesse contexto, a discussão de noções clássicas como “modo de produção” adquire um interesse renovado, ainda que passageiro.

Com o advento do século XXI houve uma reorientação do interesse para duas dimensões pouco exploradas até então, a cultural e a global. Embora o interesse pela expansão do “sistema mundial” tenha sido uma preocupação dos estudos clássicos, um número significativo de novos estudos começou a colocar ênfase na produção de valores culturais e simbólicos associados à circulação em larga escala de bens, especialmente nos principais centros da administração colonial. Por sua vez, a renovação da história dos impérios desde a década de 90 deu um impulso decisivo ao estudo da circulação de vários tipos (pessoas, informação, textos) nas áreas das monarquias ibéricas no Atlântico e no Pacífico (Biedermann; Gerritsen; Riello, 2018BIEDERMANN, Zoltán; GERRITSEN, Anne; RIELLO, Giorgio (Eds.). Global Gifts: The Material Culture of Diplomacy in Early Modern Eurasia. Cambridge: Cambridge University Press , 2018.; Leibsohn; Peterson, 2012LEIBSOHN, Dana; PETERSON, Jeanette Favrot (Eds.). Seeing Across Cultures in the Early Modern World. Farnham, Surrey, England; Burlington, VT: Ashgate, 2012.; Yun-Casalilla, 2009YUN-CASALILLA, Bartolomé. Las redes del Imperio: élites sociales en la articulación de la Monarquía Hispánica, 1492-1714. Madrid: Marcial Pons Historia, 2009.; 2019aYUN-CASALILLA, Bartolomé. Historia global, historia transnacional e historia de los imperios: El Atlántico, América y Europa (siglos XVI-XVIII). Zaragoza: Institución Fernando el Católico, 2019a. e bYUN-CASALILLA, Bartolomé. Los imperios ibéricos y la globalización de Europa: (siglos XV a XVII). Barcelona: Galaxia Gutenberg, 2019b.; Alencastro, 2000ALENCASTRO, Luiz Felipe de. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.; Perez García; De Sousa, 2018PEREZ GARCÍA, Manuel; SOUSA, Lucio de (Eds.). Global History and New Polycentric Approaches: Europe, Asia and the Americas in a World Network System. London: Palgrave Macmillan, 2018.; Bethencourt; Ramada Curto, 2007BETHENCOURT, Francisco; RAMADA CURTO, Diogo. Portuguese Oceanic Expansion, 1400-1800. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.; Gruzinski, 2004GRUZINSKI, Serge. Les quatre parties du monde: histoire d’une mondialisation. Paris: Martinière, 2004.; Valle; More; O’Toole, 2020VALLE, Ivonne del; MORE, Anna; O’TOOLE, Rachel Sarah (Eds.). Iberian Empires and the Roots of Globalization. Nashville: Vanderbilt University Press, 2020.; Hausser; Pietschmann, 2014HAUSSER, Christian; PIETSCHMANN, Horst. Empire. The Concept and Its Problems in the Historiography on the Iberian Empires in the Early Modern Age. Culture & History Digital Journal, v. 3, n. 1, pp. 1-10, 2014.; Palomo, 2016PALOMO, Federico. Written Empires: Franciscans, Texts, and the Making of Early Modern Iberian Empires. Culture & History Digital Journal , v. 5, n. 2, pp. 1-8, 2016.; Findlen, 2021FINDLEN, Paula (Ed.). Early Modern Things: Objects and Their Histories, 1500-1800. New York: Routledge, 2021.; Biedermann, 2018BIEDERMANN, Zoltán. (Dis)Connected Empires: Imperial Portugal, Sri Lankan Diplomacy, and the Making of a Habsburg Conquest in Asia. Oxford: Oxford University Press, 2018.). Da mesma maneira, a renovação teórica da história (cultural e da arte), da arqueologia e da antropologia instalou decisivamente a chamada “viragem material”, ou mais amplamente a questão dos objetos e das suas “ontologias” desde o início da era moderna (Bynum, 2011BYNUM, Caroline Walker. Christian Materiality: An Essay on Religion in Late Medieval Europe. New York: Zone Books, 2011.; Ivanic; Laven; Morall, 2019IVANIC, Suzanna; LAVEN, Mary; MORALL, Andrew (Eds.). Religious Materiality in the Early Modern World. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2019.; Brightman, 2012BRIGHTMAN, Marc. Maps and Clocks in Amazonia: The Things of Conversion and Conservation. Journal of the Royal Anthropological Institute, n. 18, n. 3, pp. 554-571, 2012.; Houtman; Meyer, 2012HOUTMAN, Dick; MEYER, Birgit. Things: Religion and the Question of Materiality. New York: Fordham Univ Press, 2012.; Mittman, 2018MITTMAN, Asa Simon. Touching the Past/Being Touched by the Past. In: JARITZ, Gerhard; MATSCHINEGG, Ingrid (Eds.). My Favourite Things: Object Preferences in Medieval and Early Modern Material Culture. Münster: LIT Verlag, 2018. pp. 35-56.; Göttler; Mochizuki, 2012GÖTTLER, Christine; MOCHIZUKI, Mia. Religion and the Senses in Early Modern Europe. Leiden; Boston: Brill, 2012.; Leibsohn, 2012LEIBSOHN, Dana. Made in China, Made in Mexico. In: PIERCE, Donna; OTSUKA, Ronald (Eds.). At the Crossroads: The Arts of Spanish America and Early Global Trade, 1492-1850. Denver: Denver Museum of Art, 2012. ; 2011LEIBSOHN, Dana. What is a Global Renaissance? Commentary. In: ADAMSON, Glenn; RIELLO, Giorgio; TEASLEY, Sarah (Eds.). Global Design History. New York: Routledge , 2011.), articulando-os para uma preocupação com as circulações regionais, continentais e oceânicas (Myers, 2001MYERS, Fred R. The Empire of Things: Regimes of Value and Material Culture. Santa Fe, New Mexico: School of American Research Press, 2001.; Santos-Granero, 2009SANTOS-GRANERO, Fernando (Ed.). The Occult Life of Things: Native Amazonian Theories of Materiality and Personhood. Tucson: University of Arizona Press, 2009.; Stoller, 2010STOLLER, Paul. The Taste of Ethnographic Things: The Senses in Anthropology. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 2010.; Appadurai, 1991APPADURAI, Arjun. La vida social de las cosas: Perspectiva cultural de las mercancías. México, D. F.: Grijalbo, 1991.; Gell, 2016GELL, Alfred. Arte y agencia: Una teoría antropológica. Buenos Aires; México; Madrid: Sb editorial, 2016.).

Apesar do desenvolvimento deste campo de pesquisa, a dinâmica material das chamadas fronteiras dos domínios ibéricos tem permanecido pouco explorada até agora. Por outro lado, a produção neste domínio tem sido dominantemente anglo-saxônica, apesar de, no mundo lusófono-espanhol, terem ocorrido alguns avanços (Geres 2014GERES, René Osvaldo. Entre albas y casullas: Objetos, cuerpos y procesos de configuración cultural en un caso de martirio (Chaco, siglo XVII). Itinerantes: Revista de Historia y Religión, n. 4, pp. 15-40, 2014.; Perrone; Scocchera, 2018PERRONE, Nicolás Hernán, SCOCCHERA, Vanina. Los altares portátiles tras la expulsión de la Compañía de Jesús en el Río de la Plata y Chile (1780-1820): una historia de agencias y resignificaciones. Historia, v. 51, n. 2, pp. 517-48, 2018.; Llamas Camacho; Ariza Calderón, 2019LLAMAS CAMACHO, Edith Guadalupe; ARIZA CALDERÓN, Tania. Piedras bezoares entre dos mundos: de talismán a remedio en el septentrión novohispano, siglos XVI-XVIII. Historia Crítica, n. 73, pp. 43-64, 2019.; Quintero Toro, 2009QUINTERO TORO, Camilo. Entendiendo los objetos y las mercancías en perspectiva histórica: presentación del dossier “Objetos y mercancías en la historia”. Historia critica, n. 38, p. 14-19, 2009.). Os estudos de fronteira em si são uma tendência relativamente nova no meio acadêmico latino-americano, tendo recebido um impulso do meio acadêmico norte-americano nas últimas décadas do século XX (Weber; Rausch, 1997WEBER, David J.; RAUSCH, Jane M. (Eds.). Where Cultures Meet: Frontiers in Latin American History. Lanham, Maryland: Rowman & Littlefield Publishers, 1997.; Boccara, 2005BOCCARA, Guillaume. Génesis y estructura de los complejos fronterizos euro-indígenas: Repensando los márgenes americanos a partir (y más allá) de la obra de Nathan Wachtel. Memoria americana, n. 13, pp. 21-52, 2005.). Missões, reduções ou aldeias de índios, fortes, presídios, entre outras formações territoriais foram palco para a formação de “materialidades emergentes”, frequentemente caracterizadas pela transculturalidade e miscigenação (Levin Rojo; Radding, 2019LEVIN ROJO, Danna A.; RADDING, Cynthia. Borderlands: A Working Definition. In: LEVIN ROJO, Danna A.; RADDING, Cynthia. The Oxford Handbook of Borderlands of the Iberian World. New York: Oxford University Press, 2019.; Herzog, 2015HERZOG, Tamar. Frontiers of Possession: Spain and Portugal in Europe and the Americas. Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 2015.). Objetos de culto (estátuas, retábulos, altares, rosários etc.) e de uso diário, plantas, armas, instrumentos musicais, e várias dimensões da materialidade do escrito (manuscritos, livros, mapas, cartas, recenseamentos etc.) foram algumas das formas destas materialidades emergentes, que eram frequentemente utilizadas como instrumentos de reciprocidade, diplomacia ou símbolos de poder. A nível de construção do imaginário imperial, os objetos e suas respectivas materialidades tiveram um peso específico relevante, vinculado às explorações, à inovação científica e às formas de observação moderna, entendidas como bases do progresso (Boumediene, 2016BOUMEDIENE, Samir. La colonisation du savoir: une histoire des plantes médicinales du “Nouveau Monde” (1492-1750). Vaulx-en-Velin: Éditions des Mondes à faire, 2016.; Bleichmar, 2016BLEICHMAR, Daniela. El imperio visible: Expediciones botánicas y cultura visual en la Ilustración hispánica. México, D. F.: Fondo de Cultura Economica, 2016.; Bleichmar et al., 2008BLEICHMAR, Daniela et al. Science in the Spanish and Portuguese Empires: 1500-1800. Redwood City, California: Stanford University Press, 2008.; Walker, 2008WALKER, Timothy. Acquisition and Circulation of Medical Knowledge within the Early Modern Portuguese Colonial Empire. In: BLEICHMAR, Daniela et al. Science in the Spanish and Portuguese Empires: 1500-1800. Redwood City, California: Stanford University Press , 2008. pp. 247-70.).

Este dossiê propõe abordar as materialidades emergentes nos espaços fronteiriços ibéricos em três situações diferentes: 1) a circulação, adaptação e transformação de significados e utilizações de objetos e técnicas europeus que atravessam os espaços fronteiriços (incorporando elementos locais, novas opções materiais, modificações plásticas, marcas de apropriação, transformações estilísticas); 2) a sobrevivência e a transformação de objetos pré-existentes nas tradições pré-hispânicas reutilizadas nas zonas coloniais; 3) a criação de novos objetos e materialidades típicas dos contextos de interação e transculturalidade.

Estas problemáticas já vêm sendo objeto de atenção nos espaços centrais da América colonial, em particular no México e Peru, onde uma grande quantidade de pesquisas tem se dedicado ao estudo das modalidades de transmissão de conhecimento e dos seus respectivos suportes de memória local (Bouysse-Cassagne, 1997BOUYSSE-CASSAGNE, Thérèse. Saberes y memorias en los Andes: in memoriam Thierry Saignes. Travaux et mémoires de l’Institut des hautes études de l’Amérique latine, n. 63. Paris: Institut des hautes études de L’Amerique latine; Lima: Institut français d’études andines, 1997.; Boone; Mignolo, 1994BOONE, Elizabeth Hill; MIGNOLO, Walter D. Writing without Words: Alternative Literacies in Mesoamerica and the Andes. Durham: Duke University Press, 1994.; Thomas Cummins, 2004CUMMINS, Thomas B. F. Brindis con el Inca: La abstracción andina y las imágenes coloniales de los queros. Lima: Fondo Editorial UNMAM; Embajada de los Estados Unidos de América; Universidad Mayor de San Andrés, 2004.; Tom Cummins; Rappaport, 2016CUMMINS, Tom; RAPPAPORT, Joanne. Más allá de la ciudad letrada: letramientos indígenas en los Andes. Bogotá: Editorial Universidad del Rosario, 2016.). Esses âmbitos geográficos contribuíram para a crescente elaboração de conceitos analíticos de eficácia díspar, que vêm sendo discutidos desde a década de 1990, como “mestiçagem”, “Middle ground”, “apropriação”, “etnogênese”, “convergência”, “transculturalidade”, hibridização, entre outros (Gruzinski, 2007GRUZINSKI, Serge. El pensamiento mestizo: cultura amerindia y civilización del Renacimiento. Barcelona: Paidós, 2007.; White, 2011WHITE, Richard. The Middle Ground: Indians, Empires, and Republics in the Great Lakes Region, 1650-1815. Twentieth Anniversary Edition. New York: Cambridge University Press, 2011.; Bailey, 1999BAILEY, Gauvin Alexander. Art on the Jesuit Missions in Asia and Latin America, 1542-1773. Toronto, Buffalo: University of Toronto Press, 1999.; Pratt, 1997PRATT, Mary Louise. Ojos Imperiales: Literatura de viajes y transculturación. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes, 1997.; Hill, 1996HILL, Jonathan D. (Ed.). History, Power, and Identity: Ethnogenesis in the Americas, 1492-1992. Iowa: University of Iowa Press, 1996.; Dean; Leibsohn, 2003DEAN, Carolyn; LEIBSOHN, Dana. Hybridity and its Discontents: Considering Visual Culture in Colonial Spanish America. Colonial Latin American Research Review, n. 12, pp. 5-35, 2003.). Atualmente, estamos em um período de revisão desses conceitos à luz da descoberta de novas fontes e do crescente desenvolvimento de linguagens altamente especializadas por diferentes disciplinas acadêmicas.

Que relevância apresentaram as tradições materiais pré-hispânicas na construção de materialidades coloniais? Quais são os alcances e limitações das classificações de “objetos” na modernidade colonial? Que papel desempenharam as concepções indígenas da materialidade e dos espaços? Como se gerou valor na circulação de materialidades e objetos? É possível estabelecer uma tipologia de objetos e materialidades baseada nas interações e nos contextos coloniais de produção?

Este Dossiê está integrado por sete artigos, seis deles escritos em espanhol e um em inglês. Todos os textos são contribuições relacionadas ao mundo hispano-americano e abordam diferentes dimensões das materialidades emergentes e sua presença e circulação em espaços de fronteira na América colonial. As materialidades analisadas abarcam diferentes “objetos”, desde as mercadorias mais recorrentes que ingressaram no continente americano por meio de redes comerciais lícitas e ilícitas, tais como tecidos, roupas, porcelanas, ferramentas e armas. Além dessas mercadorias mais tradicionais consumidas de maneira regular, também é analisada a circulação de outros bens como os objetos de culto, no caso imagens, retábulos, esculturas, estampas e livros devocionais (religiosos). Entre as materialidades contempladas figuram objetos menos conhecidos, como os “cascabeles”, pequenas esferas sonoras, que são mencionados na documentação desde os primórdios dos contatos. Nesse contexto, outras dimensões relacionadas às dinâmicas materiais igualmente foram contempladas, como os arcos adornados dedicados a rituais e festividades no mundo andino e as obras de caráter histórico que registram aspectos da História do México.

No seu conjunto, os artigos aqui reunidos apresentam um panorama de temas que abrange os distintos aspectos que as materialidades emergentes assumiram em quatro áreas de colonização espanhola na América, no caso o Rio da Prata, o Chile, os Andes e o México. Estes objetos, que apresentam diferentes suportes físicos (papel, cerâmica, madeira e metal), circularam dentro destes territórios e nos espaços de fronteira existentes entre eles, sinalizando a importância e a dimensão que estes bens atingiram nos espaços coloniais. Até o início dos anos 90, estes objetos apenas haviam despertado interesse dos pesquisadores pelo seu valor comercial, no caso, o custo que tais mercadorias, depois de introduzidas nos circuitos econômicos, alcançavam nos mercados coloniais. Entretanto, nas duas últimas décadas, e como resultado do chamado “giro material”, surgiu um interesse renovado por tais objetos e sua circulação ampliada e seu significado cultural ou transcultural. Esta mudança despertou a atenção dos pesquisadores à dimensão simbólica e diplomática presentes nestes objetos, fato que permitiu explorar uma outra dimensão presente nos intercâmbios estabelecidos dentro e a partir do sistema comercial.

O texto que abre este Dossiê é de autoria de Pedro Omar Svriz-Wucherer. Intitulado “Productos importados en las misiones jesuíticas del Paraguay. Economía y circulaciones globales en las periferias del Imperio hispánico (ss. XVII-XVIII)”, se propõe a analisar a circulação e o consumo de produtos provenientes do mundo asiático, como sedas e porcelanas, que tiveram como destino áreas consideradas periféricas dos impérios ibéricos, como era a região do Paraguai. As restrições comerciais impostas pela Coroa espanhola às suas possessões coloniais, conhecidas como “exclusivismo comercial”, determinaram que diversos agentes “não estatais” participassem ativamente deste comércio de mercadorias introduzidas de maneira ilícita no circuito comercial hispano-americano. Um estudo de caso, como o proposto por Svirz-Wucherer, permite compreender os meandros e as estratégias estabelecidas para introduzir mercadorias de procedência asiática nestes locais, com destaque para a ativa participação que os religiosos da Companhia de Jesus desempenharam nestas negociações. Exatamente por sua atuação em atividades desta natureza, os jesuítas foram acusados, em diversas oportunidades, de serem “mercaderos y usureos” em terras rio-platenses. Eles participaram, de maneira frequente, dos circuitos comerciais estabelecidos com a costa do Brasil para abastecerem com produtos provenientes do Atlântico as terras paraguaias, por meio de rotas terrestres entre os domínios ibéricos. Havia outra rota comercial desde Buenos Aires até as terras interiores, por meio de um circuito fluvial que abastecia o Paraguai.

A partir da análise da documentação primária, principalmente das cartas escritas pelos jesuítas, fossem eles superiores ou missionários, ou da consulta aos inventários, foi possível recuperar a presença de certos produtos, como sedas, porcelanas e mesmo armas que chegaram às reduções. Nestas atividades desempenharam papel de destaque os padres procuradores, que atuavam nos Colégios da Companhia de Jesus, cuja participação foi decisiva para obter certos produtos de origem asiática. Embora não se possa quantificar com precisão os volumes negociados, podemos ter uma noção desta complexa organização que possibilitou abastecer com produtos de longínqua procedência as reduções no Paraguai. Este trânsito de mercadorias releva conexões comerciais que ligavam diferentes regiões em uma dimensão global.

O segundo texto é de autoria da pesquisadora Vanina Scocchera e intitula-se “De ramadas y templos indecentes: el estado de las iglesias de las reducciones del Gran Chaco tras la expulsión de la Compañía de Jesús (1767-1778)”. Este trabalho dedica-se à cultura material presente nas Igreja localizadas na região do Chaco ocidental. A partir de uma investigação detalhada nos inventários de sete reduções do Gran Chaco, território ocupado tardiamente pelos evangelizadores da Companhia de Jesus, a autora procura reconstruir os espaços sacros e suas materialidades. As atenções da autora estão direcionadas a três aspectos: as características arquitetônicas dos templos; a disposição dos objetos litúrgicos, no caso os equipamentos utilizados no culto; e as transformações simbólicas suscitadas pela maior ou menor presença de imagens, tais como telas, lâmina e estampas, ou seja, todos os elementos iconográficos presentes nos altares e retábulos.

No seu conjunto, o artigo explora os elementos cênicos que conformam o espaço onde eram realizadas as missas, mas também valoriza a atenção dedicada às capelas/sacristias, locais onde foram guardados os equipamentos litúrgicos utilizados nas celebrações religiosas. Todos os elementos que compõem o espaço central das Igrejas, com destaque para o aspecto visual, composto pelas lâminas e estampas, estão muito bem dimensionados, compondo um cenário voltado a despertar a espiritualidade dos fiéis presentes na plateia. A consulta aos inventários é a documentação que embasa a pesquisa e permite identificar a riqueza dos objetos que ornavam o interior destas igrejas. Os dados da cultura material - extraídos dos inventários após a expulsão dos jesuítas - são devidamente contextualizados, e sua análise permite captar o esforço desses religiosos em cativar seus catecúmenos. O investimento em ornamentos suntuários revela uma preocupação com o êxito da conversão em um território ocupado tardiamente.

O terceiro artigo deste Dossiê, escrito por Fabián Vega, está centrado na materialidade de um texto, no caso, um livro impresso em guarani, Ara poru aguiyey haba (“Del buen uso del tempo”), destinado aos indígenas letrados nas reduções. Neste artigo, o autor se dedica a recuperar a trajetória deste livro “transcultural”, escrito integralmente em língua guarani pelo jesuíta criollo José Insaurralde, utilizado nas reduções do Paraguai administradas pelos jesuítas, porém, impresso em Madri, pelo editor Joaquim Ibarra, entre os anos de 1759/1760. O foco são as etapas que envolveram a produção, a circulação e a recepção deste livro em dois continentes.

A partir da consulta aos exemplares remanescentes, conservados em bibliotecas da América do Sul, da Europa e dos Estados Unidos, bem como da pesquisa nos inventários confeccionados após a expulsão dos jesuítas da América hispânica (1768), o autor dedica atenção a compreender os circuitos que possibilitaram as etapas de elaboração, circulação e apropriações deste livro. A investigação dedicou atenção às marcas de uso, especialmente as marginálias existentes nas obras consultadas. Embora este livro provavelmente tenha sido concebido para, a partir da sua leitura, reforçar a fé dos indígenas letrados e devotos das reduções, a análise dos exemplares depositados em diferentes bibliotecas permite afirmar que eles chegaram a públicos distintos, e que este livro cruzou fronteiras e teve uma circulação geográfica ampliada, ou seja, que foi “consumido” por diferentes públicos. As inscrições ou sinalizações efetuadas nas margens sugerem diferentes apropriações deste texto a partir das leituras realizadas, que podem ter variado do aprendizado da leitura ou ser o resultado de meros grafismos. Por meio da análise dos exemplares remanescentes, o artigo destaca o caráter Atlântico do processo de produção deste livro e as redes globais acionadas pela Companhia de Jesus nessas inúmeras etapas que envolveram de sua produção a seu uso.

O quarto texto que integra este dossiê, de autoria de Laura Fahrenkrog Cianelli, cujo título é “Más allá de los sonidos: intercambios, circulación y valor de los cascabeles en una frontera colonial (Chile, siglos XVI-XVIII)”, recupera a importância de um instrumento, as esferas sonoras, nomeado “los cascabeles”, que constitui um dos primeiros objetos intercambiados entre os colonizadores e as populações originárias. Este objeto já era conhecido pelos indígenas que habitavam as áreas de fronteira no Sul do Chile, sendo confeccionado com materiais locais (nozes, caracóis, metais). Contudo, os instrumentos de origem europeia despertavam maior interesse. O apreço pelos artefatos importados sinaliza um valor distinto deste objeto, indicando novas práticas atribuídas a este instrumento sonoro, tais como intercâmbios, circulações e valores culturais. Este objeto teve uma expressiva presença em diversas relações socioculturais nas fronteiras do mundo colonial hispanoamericano.

A relevância desse instrumento sonoro, utilizado em danças e rituais, fez com que ele também se convertesse em uma mercadoria apreciada pelos indígenas, apresentando-se como uma materialidade que sinaliza um grande potencial para estudos sobre a cultura material e a circulação de objetos em áreas periféricas. Trata-se de objetos fáceis de serem transportados, por sua dimensão e peso, sendo que os de manufatura europeia assumiram três dimensões: como obséquios, troca e negociação. Devido ao valor atribuído pelos indígenas, assumiram uma dimensão simbólica relevante nos espaços de fronteira do Reino do Chile. Os “cascabeles” cumpriram um papel de destaque nos contextos de contato e contribuíram para estabilizar o processo de conquista, sendo referidos nas fontes deste os primórdios da chegada dos europeus. Sua importância se revela nos usos e funções diplomáticas e evangelizadoras no sul do Chile. A posse desses objetos sonoros possibilitava o trânsito pelo território, atuando como uma moeda de troca, pois o valor atribuído a eles nos circuitos fronteiriços é um indicador da indianização de um objeto. O seu uso pelos europeus configurou um indicador de “indianidade” e mesmo de afirmação identitária diante do significado atribuído por diferentes agentes coloniais.

O quinto artigo foi escrito a quatro mãos, por Astrid Windus e Camila Mardones, as quais dedicam atenção aos Arcos Triunfais, um espaço destinado às celebrações rituais nos Andes. O texto analisa a presença simultânea de dois tipos diferenciados de arcos efêmeros, construídos e ativados nas mesmas ocasiões nos Andes: arcos triunfais coloniais e arcos pré-hispânicos. De maneira semelhante aos arcos efêmeros utilizados na Europa e reproduzidos na América, os Arcos andinos de origem pré-hispânica também foram usados para escoltar, venerar e encenar ostensivamente os governantes incas e seus parentes. Foram erguidos por ocasião de determinadas cerimônias e estiveram sempre associados a celebrações, tais como: procissões, desfiles, chegadas e despedidas. Esta coincidência de funções entre os arcos triunfais europeus e os arcos de origem incaica, e a sua aparente compatibilidade dentro das cerimônias coloniais, abre espaço para aprofundar os complexos processos de apropriação e negociação nas zonas de contato nas terras altas.

Nas pinturas coloniais que contêm representações de arcos festivos, é possível visualizar a diversidade de materiais e formas utilizadas na sua construção, bem como a aplicação simbólica de figuras religiosas e alegóricas para ilustrar grupos sociais e lutas pelo poder. Porém, esta dimensão ontológica não estava representada nas imagens da época. A perspectiva que adotamos para estudar a história pré-hispânica destes elementos arquitetônicos no que diz respeito às materialidades demonstra, pelo contrário, que eles contêm significados simbólicos profundos. Nesse aspecto, este artigo procura conectar o tema dos arcos efêmeros andinos aos debates dos estudos culturais sobre as dimensões ontológicas do domínio colonial e da transculturação (virada ontológica). As materialidades andinas não podem ser adequadamente analisadas sob a categoria semiológica da representação como meio entre os poderes eclesiásticos e seculares, um princípio ocidental que funciona para a análise dos arcos festivos europeus. Os de origem europeia ofereciam base material para ideias iconográficas, enquanto os fabricados exclusivamente pela população indígena eram apenas visualmente atraentes. No entanto, a complexidade das apropriações possíveis só se torna aparente a partir da comparação com os usos e significados pré-hispânicos e contemporâneos destas estruturas.

O sexto artigo, de Facundo Roca, cujo título é “Ecos de una imagen itinerante a ambos lados del Atlántico: la Virgen Peregrina de Quito y su recorrido material e inmaterial a lo largo del siglo XVIII”, aborda a trajetória e a devoção a uma imagem religiosa. Neste texto, o autor analisa e recupera os rastros de devoção a uma imagem itinerante que teve uma ampla difusão em ambas as margens do Atlântico. A imagem em questão, a Virgen de la Merced, tem a sua gênese no âmbito andino - Quito - e obteve adeptos em diferentes regiões da América e da Espanha. A amplitude da devoção dedicada a esta imagem peregrina permite visualizar o processo de construção dessa devoção e sua difusão em distintos contextos e espaços geográficos. Sabemos que a disseminação de imagens elaboradas a partir da pintura da Virgen Peregrina, no primeiro quarto do século XVIII, sinaliza a existência de um modelo comum, que serviu de referência para as demais representações pictóricas, resultado do esforço dos religiosos mercedários em legitimar o culto a esta imagem. Neste artigo são recuperados os itinerários percorridos por esta Virgem e a circulação desta imagem permite identificar as estratégias utilizadas pelos religiosos para consolidar a admiração por ela ao longo do século XVIII.

Em decorrência da veneração a esta imagem foram produzidas e distribuídas uma grande quantidade de estampas, imagens e medalhas destinadas a consolidar a devoção à Virgem de Quito, cujas primeiras referências históricas datam do final do século XVII e primeiras décadas dos XVIII. A propagação de milagres atribuídos a ela contribuiu para fazer crescer o fervor e a devoção a ela, ampliando os pedidos de celebrações em seu nome. As arrecadações e esmolas foram crescentes diante da mobilização gerada em torno dela. A ampliação da veneração à Virgem resultou na confecção de uma quantidade de estampas, rosários e cunhagem de medalhas reproduzindo a imagem desta Virgem. Objetos, cuja materialidade ia além de propagar a devoção, igualmente reforçavam o apreço dos fiéis. Esta profusão de imagens é um testemunho do amplo circuito que elas percorreram durante o século XVIII. A circulação de estampas alusivas a esta Virgem peregrina denota as redes que atuavam em ambas as margens do Atlântico, mesmo que com significados e conotações diferentes nestes espaços.

O último texto desse Dossiê é de Alfredo Nava Sánchez e tem como título: “La emergencia del ‘México Antiguo’ o la configuración universal y estética de un pueblo como monumento a fines del siglo XVIII”. No texto são abordadas as estratégias narrativas presentes em alguns textos de Francisco Javier Clavijero e Pedro José Márquez. Ambos os autores são jesuítas e seus escritos visam recuperar os elementos historiográficos articulados no sentido de demonstrar que os “antiguos mexicanos” faziam parte de uma população civilizada e racional. Desde uma perspectiva historiográfica as contribuições desses dois autores permitem reconhecer um esforço para conciliar uma base epistemológica típica da “historia universal cristã” com a história das antigas populações mesoamericanas, devidamente ajustadas aos critérios teóricos e metodológicos de uma “historia universal secular”, muito em voga na Europa no final do século XVIII. As obras elaboradas por esses dois autores jesuítas (criollos) recuperam elementos da tradição das histórias particulares - as histórias das populações originárias - relacionadas à dinâmica cristã da conquista e da colonização.

Estes aspectos são valorizados para estabelecer narrativas “modernas” do passado, especialmente em seu caráter político e estético, elementos que posteriormente a historiografia identificou como uma antecipação constitutiva dos argumentos presentes nas histórias nacionais. Os jesuítas se valeram de fontes não escritas para estabelecer as mediações necessárias para conectar a história antiga dos mexicanos com essa perspectiva universal. Sem desconsiderar as exigências epistemológicas “modernas”, eles propuseram interpretar os monumentos, objetos e pinturas em um sentido estético que vigorava a partir daquele século. Nesse aspecto, as fontes utilizadas por estes jesuítas antecipavam as mesmas divisões contemporâneas das disciplinas científicas, ainda desconhecidas naquela época. Dessa maneira, o estudo empreendido por eles se valeu de elementos da arqueologia, da antropologia e da história da arte como critérios para conferir um “estado de civilização” para tais populações. Ao propor esta abordagem, estavam inovando e estabelecendo novos parâmetros de abordagem, que contribuiriam sobremaneira na definição de um modelo de sociedade e também na própria materialidade dos monumentos que seriam elaborados posteriormente e caracterizados como símbolos nacionais.

Alguns dos temas aqui propostos indicam novas agendas de pesquisa, tanto desde o ponto de vista empírico como teórico. Neste sentido, podemos elencar de maneira muito sumária alguns destes temas: 1) a sobrevivência em longa duração, inclusive até o presente, de conteúdos e modalidades pré-hispânicas; 2) A relação de produções e reproduções materiais concretas com ontologias resultantes do contato e a “transculturalidade”; 3) Os usos e apropriações locais indígenas de tecnologias e materialidades europeias (por exemplo, a escrita e o livro); 4) As negociações referentes à reorganização do espaço e à paisagem de núcleos populacionais e seu entorno; 5) A criação de regimes de organização sensorial; 6) O estatuto dos objetos rituais ou sagrados e os efeitos de sua manipulação; 7) O envolvimento de atores religiosos, em especial membros de ordens religiosas.

Certos temas abordados pelos autores que integram este Dossiê fazem parte de uma agenda de pesquisa referente a um debate teórico transdisciplinar que recentemente tem envolvido, e mesmo aproximado, tanto historiadores como antropólogos, historiadores da ciência e da arte. Um debate fundamental que devemos mencionar, para não passarmos a impressão de que entendemos os “objetos” como dados da realidade, é a natureza dos objetos, ou, como alguns autores preferiram nomeá-los, das “coisas” (Ingold, 2012INGOLD, Tim. Trazendo as coisas de volta à vida: emaranhados criativos num mundo de materiais. Horizontes Antropológicos, ano 18, n. 37, pp. 25-44, 2012.; Daston, 2004DASTON, Lorraine (Ed.). Things That Talk: Object Lessons from Art and Science. Princeton: Zone Books, 2004.). Estes temas demandam uma discussão profunda que leve em conta, como ponto de partida, os clássicos da antropologia econômica, e seus conceitos de “don” e reciprocidade, e que culmine nos desenvolvimentos mais recentes relacionados à “agencia” dos objetos e à sua capacidade de se comunicarem, tanto em contextos cotidianos como rituais (Gell, 2016GELL, Alfred. Arte y agencia: Una teoría antropológica. Buenos Aires; México; Madrid: Sb editorial, 2016.; Bynum, 2011BYNUM, Caroline Walker. Christian Materiality: An Essay on Religion in Late Medieval Europe. New York: Zone Books, 2011.; Morgan, 2010MORGAN, David (Ed.). Religion and Material Culture: The Matter of Belief. London: Routledge, 2010.; Daston, 2004DASTON, Lorraine (Ed.). Things That Talk: Object Lessons from Art and Science. Princeton: Zone Books, 2004.; Severi, 2010SEVERI, Carlo. El sendero y la voz: una antropología de la memoria. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: SB, 2010.; Payne, 2013PAYNE, Alina. Living Stones, Crying Walls: The Dangers of Enlivenment in Architecture from Renaissance putti to Warburg’s Nachleben. In: VAN ECK, Caroline; VAN GASTEL, Joris; VAN KESSEL, Elsje (Eds.). The Secret Lives of Artworks: Exploring the Boundaries between Art and Life. Leiden: Leiden University Press, 2013. pp. 301-32.). A redefinição da “religião” com um conceito de materialidade e não somente de crença se articula bem com estes novos debates, recuperando, ademais, a dimensão sensorial e corporal das práticas simbólicas (Houtman; Meyer, 2012HOUTMAN, Dick; MEYER, Birgit. Things: Religion and the Question of Materiality. New York: Fordham Univ Press, 2012.; Engelke, 2015ENGELKE, Matthew. Material Religion. In: ORSI, Robert A. (Ed.). The Cambridge Companion to Religious Studies. Cambridge: Cambridge University Press , 2015. pp. 209-229.; Göttler; Mochizuki, 2012GÖTTLER, Christine; MOCHIZUKI, Mia. Religion and the Senses in Early Modern Europe. Leiden; Boston: Brill, 2012.; Wilde, 2015WILDE, Guillermo. The Political Dimension of Space-Time Categories in the Jesuit Missions of Paraguay (Seventeenth and Eighteenth Centuries). In: MARCOCCI, Giuseppe et al. (Eds.). Space and Conversion in Global Perspective. Leiden: Brill, 2015. pp. 175-213.; 2019WILDE, Guillermo. Regímenes de memoria misional: formas visuales emergentes en las reducciones jesuíticas de América del Sur. Colonial Latin American Review, v. 28, pp. 10-36, 2019.). Desenvolvimentos mais recentes na história da igreja, tradicionalmente marcados por uma visão normativa e institucional, tendem a incorporar todas essas dimensões e temas, renovando perspectivas baseadas na análise de práticas e atores (Ayrolo; Barral; Wilde, 2023AYROLO, Valentina; BARRAL, María Elena; WILDE, Guillermo (Eds.). Catolicismos de la Colonia a la República: Nuevas miradas desde el Sur. Rosario: Prohistoria Ediciones, 2023.).

O estatuto dos objetos em distintas épocas e regiões seguirá sendo tema de discussão, particularmente no que diz respeito aos atributos que se diferenciam de outros dispositivos com os quais mantêm uma relação ambígua, como a imagem. Não somente tiveram um papel fundamental na organização da religiosidade e do poder secular, se não que a nível cotidiano foram disputados e postos em circulação de maneira singular. A compreensão das funções dos objetos e materialidades em contextos situados de poder permite avançar sobre possíveis comparações. A perspectiva comparada abre possibilidades analíticas que podem contribuir para melhor compreender diferentes contextos transregionais, transtemporais e transculturais (Bynum, 2020BYNUM, Caroline Walker. Dissimilar Similitudes: Devotional Objects in Late Medieval Europe. New York: Zone Books , 2020.; Ivanic; Laven; Morall, 2019IVANIC, Suzanna; LAVEN, Mary; MORALL, Andrew (Eds.). Religious Materiality in the Early Modern World. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2019.; Balandier, 1994BALANDIER, Georges. El poder en escenas: de la representación del poder al poder de la representación. Barcelona: Grupo Planeta (GBS), 1994.).

Como já mencionamos, a temática proposta neste dossiê se encontra pouco desenvolvida até o presente momento na História colonial da América Latina de fala luso-espanhola. Como já havia constatado Leibsohn e Mundy, a demora desta historiografia em incorporar as discussões a respeito dos “objetos coloniais” apresenta um desafio metodológico para as disciplinas classicamente relacionadas com a transmissão escrita. Mas ao mesmo tempo permite reinserir a narrativa clássica sobre a ausência e a extinção indígena no paradigma da materialidade e das circulações, e, portanto, reavaliar as mudanças, transformações e continuidades muitas vezes veladas (Leibsohn; Mundy, 2012LEIBSOHN, Dana; MUNDY, Barbara E. History from Things: Indigenous Objects and Colonial Latin America. World History Connected, v. 9, n. 2, 2012. ).

De modo geral, esperamos com esse dossiê ampliar o diálogo e a divulgação das contribuições recentes nesse campo de pesquisa, especialmente aquelas realizadas fora do âmbito anglo-saxão, aproximando a produção realizada nas Universidades brasileiras e ibero-americanas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024
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